quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Endereçada à quem não chegou.

Não pretendo te contar que o meu medo já me impediu de viver muitas coisas, que esse é atualmente o meu maior defeito, e que justamente por isso eu adio você. Você não sabe que eu escrevo, ainda que mentalmente, o tempo todo e que eu tenho muitas cartas endereçadas à quem não chegou, como essa. Mas eu pretendo te mostrar o meu lado mais bonito, com toda a minha simplicidade e meu bom humor. 


terça-feira, 4 de junho de 2013

Lua.

São quatro horas da manhã, de uma terça-feira qualquer, estou sentada no parapeito da minha janela, no segundo andar, e a única coisa que sinto, nesse momento, é o frio das telhas geladas onde meus pés estão apoiados. Gosto de me sentir momentaneamente vazia por dentro, porque tenho a sensação de que posso me preencher e me transbordar do que eu preferir.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Jardim interno.

Você trouxe a luz da lua para dentro do quarto, as estrelas estavam dançando em mim quando acordei, e a primeira coisa que vi foi um de seus olhos fechados entre os travesseiros, me escapou um sorriso silencioso. As tuas mãos deslizaram pela minha cintura e eu me aninhei no teu peito. Eu senti quando você depositou um leve beijo na minha testa depois de abrir um largo sorriso. E aí, então, você estava ali, nós estávamos aqui. E aí então, eu, que sempre gostei da Terra girando, me vi querendo parar o tempo, me encontrei querendo ser única entre todas as sete bilhões de almas no mundo que tem a possibilidade de sentir o mesmo.

domingo, 12 de maio de 2013

Bem-vinda à experiência humana.


Bem-vinda à experiência humana. Foi o que disse na frente do espelho. A experiência humana é o copo cheio ou vazio? Não me entenda errado, falo desse copo interno que todos nós temos. E, no fundo, acho que a experiência é um pouco dos dois. Bem vinda à experiência humana porque eu sempre fui de transbordar e desaprendi.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Inteira.

Ela tem olhos vagos, que aprenderam a sorrir e buscam incansavelmente a novidade ao redor, por de trás das lentes de seus óculos. Vez ou outra já disseram que é fácil entender o que se passa em sua mente pelo canto dos olhos ou pela posição das sobrancelhas, que denunciam emoções repentinas. Não são olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados, como os de Capitu, que ela tanto adora. No fundo, ela queria que fossem, mas toda a coragem que Machado presentou Capitu, ainda não foi dada à ela.

domingo, 24 de março de 2013

Nós.

Eu não me importo se você vem trançar seus pés absurdamente gelados nos meus, de propósito e devagar, a única coisa que consigo fazer é sorrir baixinho. Eu não me importo, porque sei que provavelmente roubei teu cobertor no meio da noite e mesmo assim, isso aqui e agora, somos nós. Não me preocupo se deitamos abraçados e eu acabei cochilando no teu braço, mesmo sabendo que depois de alguns minutos você vai dizer que interrompi sua circulação, porque mesmo assim, você sempre me deixa continuar ali. É imensamente engraçado o quanto você passa a mão nos cabelos quando se levanta, mas eu não me importo, porque o seu cabelo bagunçado me faz aceitar toda a espera antes de você.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Presente.

** Texto (lindo) que recebi como presente de aniversário, em resposta ao texto "Dentro de mim".


"Entro. Minhas malas em minhas mãos e embaixo de cada braço. Sem pedir permissão, fecho a porta com o lado do corpo. Deixo duas malas no chão, duas no sofá. Você me olha. Seus olhos esbugalhados pelo susto ao me ver; não havia recados avisando que eu chegaria.

Arrumo minhas coisas. Abro espaços aonde consigo: nos seus armários, seus guarda-roupas, em suas prateleiras... no seu coração. Tiro de cada mala meus defeitos e minhas qualidades, e coloco cada uma, pouco a pouco nas estantes da sala, nos armários da cozinha, no seu criado-mudo, nas prateleiras do banheiro. Você me encarando, me conhecendo e digerindo, pedaço por pedaço, enquanto me espalho em sua casa.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Dentro de mim.

Você entrou pela porta, com três ou quatro malas enormes distribuídas entre seus dedos e embaixo de cada braço, não pediu permissão nem deixou recado avisando quando chegaria. Fechou a porta com o lado do corpo e colocou algumas malas no chão e outras no sofá. Olhei pra você meio assustada, não esperava que você chegasse hoje, não esperei que você chegasse.

Você foi logo abrindo espaços nos armários, guarda-roupas, prateleiras, coração. E aos poucos, foi arrumando suas coisas, tirando suas inúmeras qualidades e defeitos de dentro das suas enormes malas e organizando pouco a pouco nas estantes da sala, armários da cozinha, no meu criado-mudo, nas prateleiras do banheiro. E eu, fui conhecendo, aceitando e abraçando cada pedaço seu, agora, espalhados pelo meu lar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Bonita e breve."

Entendo borboletas, que passam por todos sem chegar perto, que sentem apenas o perfume e se apaixonam a cada dez segundos por um olhar que a contemple, talvez porque sua essência seja ser breve e fugaz, ou nem seja, vai ver esse é o único modo que sabe viver, ou que viveu, até hoje.

Quando vejo uma borboleta, em sua completa liberdade, cruzando ventos, beijando flores, parando em qualquer lugar a hora que quiser, tenho certeza que ela entende - muito mais que nós - o quanto a vida é efêmera. O quanto a liberdade importa, o quanto se deve aproveitar. O que significa cada vez que o sol aparece de novo e sempre diferente no horizonte.


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Sobre o que não sei.

Eu me envolvo em uma casca dura. Eu me recolho em mim mesma. Me finjo de forte. Crio mundos internos onde sou soberana e habitam meus eus. Finjo estar no controle da minha própria vida só pra poder me preocupar com algo que não seja o dia em você virá.

Não me desespero, nunca consegui ser assim. Sou minha demais, pra me doar à alguém por tédio, pra querer alguém pela metade, ou aguentar amor gelado. Não tenho disposição pra desejar simplesmente porque tem músculos, ou bens. Nunca quis conseguir ter um amor de uma noite, grudar lábios por não ter nada melhor pra fazer, me apegar à fantasias. Também não espero que alguém se apaixone sem que eu saia da casca. Sem me desvendar, me descobrir. Não espero um coração de alguém que não se encante fácil, que não sorri pra vida, que não crie laços, que não me faça rir.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Inteiramente minha.

Durante incontáveis dias senti falta de algo, e faltaram-me palavras para explicar à mim mesma o que era. Nunca soube. Ingenuamente acho que acreditei que todos, de alguma forma, perteciam. E durante muito tempo apenas essa explicação bastou à mim. Não interessava-me e nunca interessou-me ir mais fundo, saber se perteciam à um lugar, à uma história, à alguém. E procurei, durante muito tempo, também pertencer. Custou-me descobrir que eu estava errada, e meu erro não foi trágico ou melancólico, foi simplesmente o erro mais belo que pude cometer. Eu não pertenço à algo. Não. Sou minha.