sexta-feira, 29 de março de 2013

Inteira.

Ela tem olhos vagos, que aprenderam a sorrir e buscam incansavelmente a novidade ao redor, por de trás das lentes de seus óculos. Vez ou outra já disseram que é fácil entender o que se passa em sua mente pelo canto dos olhos ou pela posição das sobrancelhas, que denunciam emoções repentinas. Não são olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados, como os de Capitu, que ela tanto adora. No fundo, ela queria que fossem, mas toda a coragem que Machado presentou Capitu, ainda não foi dada à ela.

Procura esconder no próprio olhar tudo aquilo que quase foi dito, ou ficou preso na garganta em algum milésimo de segundo no espaço do "por pouco", do "se", do "melhor não". Seus olhos não servem simplesmente para ver, ela observa, capta, analisa, estuda, procura compreender tudo aquilo que ninguém mais vê, o que está ali e ninguém nota. Ela gosta mesmo é dos detalhes. Detalhes esses, que sempre seguem com uma descrição minuciosa que surgem nas entrelinhas de seus textos, escritos enquanto os olhos piscam rápidos e dançam pra lá e pra cá em busca do melhor sentido que aquilo possa fazer. Entre palavras cortadas e folhas rabiscadas, ela quer escrever sobre tudo, encontrar um sentido e um nome para sensações que nem ela compreende. Ela tem um caderno inteiro de frases soltas, que de tão únicas, nunca conseguiu encontrar complemento.

Discorda de quem precisa de uma multidão pra sorrir um pouco, ela adora a própria companhia e mesmo sozinha, se diverte como ninguém. Ela possui um riso interno, e dizem que não consegue dizer três frases completas sem esboçar um sorriso que está sempre ali, no canto dos lábios. Ela tem espírito medroso-aventureiro, que sente medo quando não sabe o que está por vir, mas que mesmo assim, tenta fechar os olhos e pular, prefere isso a somente contemplar a emoção no rosto dos outros. Ela quer sentir, mergulhar, voar. E de tão imprevisível que é, acaba por surpreender ela mesma. Ela não quer viver pela metade, sentir um pouquinho, ter uma vida morna, ela quer descansar no horizonte, brincar com estrelas, abraçar a lua e se perder em nebulosas. Ela busca o tudo, a sensação extrema, o sentimento infinito, a vida única. Mas não se engane, porque tudo isso, são detalhes da sua mente incansável. No fundo, tudo isso é simples, são sensações. Ela gosta mesmo, do vento da praia bagunçando a franja, de olhar o mar encontrando o céu, sentir a areia nos pés. Deitar debaixo das estrelas e procurar tudo aquilo que ela ainda não descobriu, e por tal motivo, ela prefere a noite. E ainda que não conte, procura por amores calmos-arrebatadores, pouco importa se é complexo, difícil ou paradoxal. Ela possui uma idéia única do que seria um romance e ainda que insista em definições rasas, ela mesma não sabe explicar. O que ela procura, Machado, José, Caio, Chico, Caetano, Nicholas, John, Vinícius, William, Clarice, Tati, Cecília, Amanda, Verônica, Cora, Anaís, Martha, Joseph, Carlos, Mario, Oswald, Paulo, Octavio, Fernando, Walt, Guilherme, Katherine, Tennessee, e muitos outros que ela insiste em ler, reler e citar mentalmente, não conseguiram descrever. Para ela, as coisas não são somente pelos olhos, bocas, mãos, corpos. E sim pelo modo que pisca, pelo sorriso devagar, por como é dito e pelo jeito que o corpo se move, porque o que ela procura, vai muito além do que já leu em todos os livros de romance que preenchem suas estantes. Vai muito além de fotos publicadas e descrições vagas e clichês. E assim como Charlie, ela só quer, em algum momento, se sentir infinita.

Ela é inquieta, ansiosa, estala os dedos, e balança freneticamente a perna. Mas ainda assim, consegue ser paciente. É avoada, desastrada, indecisa, boba, e passa tempos indeterminados olhando para uma direção que nem ela sabe qual é, perdendo pensamentos para os ponteiros do relógio. É daquelas que se encanta facilmente, que sonha acordada e que jura que algum dia vai saber tudo sobre as oitenta e oito constelações. Ela acumula planos, possui uma lista de lugares para conhecer e coisas que deseja fazer, e se perguntarem quando, nem ela sabe. Quando der.

Todo mundo diz que tenta entender, poucas pessoas, de fato, tentam. Inclusive ela. Ela tem um jeito único e um coração enorme. De séria não tem nada, nem a postura e nem a fala. Ela sabe que é, no sentido mais bobo da palavra, engraçada. E para ela, as melhores pessoas são assim. Faz brincadeiras com tudo, e realmente não se importa que façam com ela. Ela sabe rir de si mesma. Não sabe ser cruel, mas já tentou. Apesar disso, ela quer cuidar do mundo, e distribui amor aos poucos, ainda que possua uma imensa dificuldade em demonstrar.

A verdade é que as palavras são seu escape e sua fonte, ela escreve o tempo todo, em qualquer lugar, ainda que mentalmente. Ela sempre tenta descrever mundos internos e externos. Ela sabe que assim congela momentos para que ela e outros possam vir a se descobrir e dar nomes ao que ela não consegue. Porque ela gosta mesmo é de eternizar.


Tânia Quaresma.

Um comentário:

  1. Meu Deus, somos muito mais parecidas do que eu achava! Hahaha (: Estava com mais saudade daqui do que previa

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