domingo, 30 de outubro de 2011

Alguém que vê de fora.

Ela ainda sente que precisa dele aqui. E ele, vez ou outra ainda a encontra dentro dele. A pergunta em questão é: o quanto isso importa agora? Eles são tão parecidos que encontram os próprios defeitos no outro e criam repulsa automática. Eles, sem saber, se amam.

Não é um amor destes em que você está pensando, é muito mais que isso. Ela o compreende, ele é seu cúmplice, diversas vezes um limpou a lágrima do outro,  simplesmente se escutaram, ou um abraço curou absolutamente tudo. É um daqueles amores que se completam, que são fiéis, que são divertidos, que sabem que sempre existe o outro, é aquele amor não egoísta, é um amor que dá conselhos, que ouve, que briga, que cuida, que procura, que consola e orienta. É muito maior do que qualquer amor que você está pensando. Eles nunca trocaram um beijo, mas entre eles existem afetos intermináveis que significam muito mais. E machuca, machuca tanto quanto qualquer outro tipo amor.

Não sabem a situação em que se encontram agora, não sabem como irão resolver, não sabem se o tempo irá curar. E assim vão levando, sentindo uma falta abafada no peito. Agora substituída por outras pessoas, por sorrisos forçados, conversas superficiais e segredos mantidos em si. Eles não percebem o quanto suas brigas são bobas, o quanto suas discussões são ingênuas e o quanto é realista a necessidade do outro em si. Eles são amigos, ou eram. Não se sabe. O que se sabe é que eles sempre desistem um do outro para sempre todos os dias, e voltam atrás.

Tânia F.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dissemelhante.

Venha, sente ao meu lado. Não pergunte coisas bobas, não pergunte se estou bem. Tantos já perguntaram isso. Inicie uma conversa sobre o jeito que meus olhos piscam, fale das imperfeições dos meus dedos. Me faça rir de um defeito. Não seja comum, porque no mais íntimo essa é a espera, de que tudo seja simples, óbvio e banal. Seja diferente. Comece falando sobre a minha inquietude, do jeito que minha perna não para quieta, conte-me suas crenças, seus afetos, aceito até sua rotina se me contar o que te faz sorrir e do que você tem medo. Por que as coisas realmente belas ficaram de lado? Por que as conversas realmente interessantes se tornaram escassas? Não seja abusivo, se eu te contar meus medos é simplesmente porque eles parecerão bestas perto do seu conforto, porque ele valerá a pena. Eu posso até ganhar um abraço.

Coisas banais são tão desinteressantes, me surpreenda!  O normal não me interessa. Me ligue às três da tarde de uma terça-feira, completamente sem motivo. Escreva uma carta. Me faça rir de algo totalmente inusitado, olhe nos olhos, beije minha cabeça quando o que eu mais quiser seja um beijo seu. Me traga uma maçã, ou um desenho, ou um cadarço. Aceito até a folha de um livro. Olhe as nuvens, brinque comigo, e brigue também. Me deixe um dia com raiva por fazer minha barriga doer de rir, me suje, escolha um texto para mim, leia algum meu, ou escreva um. Cante uma música horrível. Mostre que se importa. Dance comigo ao meio dia, sem som algum. Me dê um buquê de flores, ou folhas, ou uma verdura, ou escolha uma estrela para ser nossa. Me deixe te afogar em mim, me belisque, me puxe, ria de qualquer gordura a mais, ou mostre como os meus braços são finos. Invente uma história para eu dormir. Me faça passar vergonha e chorar de rir. Desapareça, não me procure um minuto sequer, mas volte, não me deixe te esquecer. Pode parecer insano, mas é tão bom sentir falta de alguém. Simplesmente me deixe te conhecer, o seu íntimo, a sua alma. Saber o que realmente gosta e o que não gosta, saber o que te faz sorrir. Porque isso sim vale a pena, porque isso sim é único. E é só o que se quer ser. Me deixe participar das suas lembranças, isso é tão difícil hoje em dia. Me faça suar, me faça sentir frio. Mas, por favor, não me deixe normal, não me deixe amena.


Tânia F.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Perigo.

O que por vezes deixou de ser intenso precisa ser constantemente lembrado, caso contrário será substituído. Sua presença é necessária, é perigoso ficar sem te ver.


Tânia F.

sábado, 8 de outubro de 2011

Presunçosa.

Eu caio em armadilhas que não sei sair.
Eu piso em pregos desconhecidos.
Tudo isso seria óbvio se não fosse tão proposital.

Sou tão presunçosa que ando por encruzilhadas jurando que não entrarei em ruas erradas, que não pisarei em falso, que sou incrívelmente boa para sair de qualquer coisa que eu ache que me prenda ou me engane. Eu me engano.

Eu cravo o pé propositalmente no prego desconhecido, julgando-me forte o suficiente para a qualquer momento arrancá-lo fora, sem dor, sem perda daquilo que estava em mim. Esquecendo que o que encontra-se aqui dentro não é tão somente o prego, ele não caminha sozinho. Esquecendo que posso ser contaminada. O amor pode ser uma bactéria.

Tânia F.

domingo, 2 de outubro de 2011

Querido coração,

Eu cuido de você, coração, eu cuido de mim. Eu sei o quanto você desiste para sempre todos os dias e volta atrás, simplesmente porque ele faz você bater mais rápido. Mas não posso mais, é para o seu bem, para o meu bem. Estas são as últimas palavras que eu e você escreveremos sobre ele, combinado? Nós não deixaremos mais as palavras transbordarem de você. Eu sei, coração... eu sei que ele toma você de mim às vezes, mas ele não tomará, nunca mais, feito? Eu não deixarei, eu prometo. Não, eu não esqueci, coração. Não esqueci das vezes que ele fez você estremecer aqui dentro e não vou esquecer, é claro que não. Mas eu e você faremos um esforço para não lembrar, ok? Eu preciso que você me apoie nisso, coração, caso contrário sempre será difícil seguir em frente. E nós queremos seguir, todos os dias. Promete para mim que de hoje em diante não recuaremos? Mesmo que isso seja para encontrá-lo de novo. Devemos lembrar que ele só anda para frente, coração, e que ele guardou você no bolso, que ele só consulta você quando quer. Isso não é suficiente, não se contente com tão pouco, coração, por favor.

Às vezes penso que te acostumei mal, que sempre fiz você tão feliz que quando desisto de algo que você quer, você não aceita e me convence a tentar sempre mais um pouquinho, tudo por você. Mas dessa vez, coração, nós chegamos ao nosso limite, você me compreende, eu sei que sim. Eu e você continuaremos firmes e fortes, sempre foi preciso muito mais que tudo isso para que eu deixasse você despedaçar. E nós continuaremos como sempre: sorrindo. Não precisamos causar preocupações à outros corações que batem em sintonia, você não acha? Pense comigo, coração, pare de sentir tudo isso um pouco e pense. Como nós queremos tanto encaixar alguém em  você se ainda existem peças de quebra-cabeças antigos aí? Eu tenho uma idéia, vamos fazer uma limpeza, arrancar tudo o que não serve mais de dentro de você e consequentemente de dentro de mim? Vamos existir para o novo, coração?

Tânia F.