segunda-feira, 30 de maio de 2011

O meu mistério.

Nunca havia deixado claro o que sinto e nunca a minha demonstração foi suficiente. Eu sempre escolhi o mistério, ou por medo, ou por aprendizado. Eu preferia a incerteza de não o ter simplesmente pelo fato de não te deixar saber o que se passava dentro de mim, do que essa certeza de ter te mostrado tudo e, ainda assim, perceber que pra você foi indiferente.

Pra mim, é triste quando desistem de desvendar o meu mistério. Por essa razão, nunca deixo claro o que sinto. Mas sinto. Não ser transparente não significa não sentir. Talvez o meu maior erro tenha sido o de deixar claro o que se passa em mim. O mistério instigava. O mistério instiga.

Tânia F.

sábado, 28 de maio de 2011

Tentação.

Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos. No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução

Clarice L.

De vez em quando.

As vezes, tenho medo de deixar o que eu escrevo soar extremamente desesperador. Porque não é. Apenas gosto de você, gosto muito de você, mas não preciso. Apenas gostaria que você viesse de vez em quando, mesmo que seja só de vez em quando.

Tânia F. Quaresma

Marasmo.

Vem, me telefona, chama, grita, me procura. Me deixa te escutar, te sentir. Nem que seja só por hoje, só por agora. Vem.

Tânia F.

Confidência.

Ela sentia medo. Um medo terrível de se machucar novamente, um medo de se iludir, de se apegar ao que era uma incerteza ser recíproco.

Tânia F.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ele não veio e a noite inteira o telefone permaneceu em silêncio.

Tem sido assim, esses dias, incertos. Incerteza fraca, como diria Caio: "incerteza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? O que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará."

Sinto que existe uma relação, uma conexão, um vínculo. Algo que não sei descrever, não sei explicar e muito menos entender. Não sei até que ponto isso é certo (e quando se sabe?), não sei até que ponto isso é justo. Então prefiro deixar assim: certeza mergulhada em um balde de orgulho. Por enquanto. Só não demore. Não deixe isso se perder, não deixe se transformar em nada. Não me deixe ir.

Foi impulso, surpresa ou puro destino? Destino não, tudo menos destino! Surpresa foi, mas daquelas que você tenta se convencer que não pode acontecer, porém, sabe que existe (mesmo que pequena) possibilidade. E impulsos? Ah! Queridos impulsos, por que ainda dou voz à vocês? Não me criaram arrependimentos, no entanto, criaram dias inteiros de pensamentos perdidos. É incrível como essa situação não dói, pode doer mais tarde, talvez. Então, coloco um sorriso no rosto e música nos ouvidos, ultimamente ela tem espantado suposições infinitas que insistem em passar pela minha cabeça. Coloco música nos ouvidos para abafar o coração.

Tânia F.
 
 
O que houve foi um pensamento impiedoso e exatamente assim: não faço parte disso. Secamente, definitivamente, eu não fazia parte daquilo. [...] Por razões que não sei explicar; e nem precisariam tentar ser explicadas porque eram e, pior, continuam sendo completamente indiscutíveis. (Caio f.)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Desejo, ou não.

Você chegaria como todos os dias, com o seu sorriso fácil e diria que nós iríamos conversar, porque você tinha uma notícia, um sigilo, um segredo. Eu iria insistir para saber naquele momento e você, como sempre, iria adiar, me deixaria curiosa até eu parecer não estar mais interessada em saber e então, nós sentaríamos um ao lado do outro, você olharia para mim, olharia para baixo e olharia para mim denovo, você não saberia como começar. Eu iria fingir perder a paciência e você, depois de morder o lábio, diria que tudo está de acordo com a normalidade, que está tudo organizado e nos trilhos. Eu iria sorrir e te daria um abraço bem apertado, daqueles que fazem doer de tão forte, porém que fazem sorrir durante a dor. Eu não conseguiria esconder a felicidade.

Eu diria que iria pensar, porque seria inevitável, porque seria necessário, importante ou, talvez pelo meu simples orgulho e seriam os pensamentos mais cruéis. Eu sentiria medo de acontecer tudo novamente e pensaria em desisitir, eu pensaria em desistir e sentiria medo. Iria surgir uma vontade imensa de tentar novamente, mas eu precisaria de uma prova de mudança maior ainda. Eu iria pensar nisso o dia inteiro até perceber que não chegaria à nenhuma conclusão. E então, nós conversaríamos e eu teria certeza do que você quer, saberia o que você pensa e principalmente o que você sente. Nós seríamos sinceros. Eu talvez fosse capaz de apagar o passado com a mesma mão que, um dia, cobriu o rosto e tentou disfarçar o choro, e você diria tudo o que eu quero ouvir com a mesma boca que, um dia, mentiu.

Não é assim que deveria ser?

É, ou não é, talvez. E como seria diferente se tudo acontecesse dessa forma, no ritmo certo. Do jeito certo -e quem disse que esse é o jeito certo?-. Às vezes, não nego, espero, porém, em outros momentos (nos que a razão prevalece) percebo o quão insano e improvável isso é. Problema grande: querer mas não poder, querer mas não querer.

Tânia F.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fios.

  Sei que tudo isso é uma absoluta loucura, e qual a probabilidade de uma loucura dar certo? Estou com um medo terrível de estar fazendo errado. Te machucar me machucaria.
  Um mês e cinco dias infelizmente não foram suficientes para esquecer. Me desculpe, mas penso em dar meia-volta. Talvez eu deva mesmo deixar tudo para lá, jogar para o alto e esquecer. O problema é que quando estou conseguindo desfazer o meu emaranhado de confusões perco a outra ponta e deixo tudo trançar novamente.

Tânia F.

Mutualismo.

Não sei se, de fato, quero você
digo, como algo mais.
Sei que te quero bem, mas não necessariamente comigo.
Podemos fazer dar certo? Mesmo?
"Se você quiser conseguiremos"
Só não iremos deixar que pareça algo mecânico, forçado.
Afinal, é?

Você sempre esteve aqui, então não vamos deixar que essa relação acabe por um simples
eu-sei-que-preciso-de-alguém-agora-poderia-ser-você?
Infelizmente não é só uma questão de sorrir e andar de mãos dadas,
Tem mais a ver com sentir.
Faria uma diferença muito grande se o "sentir" não fosse por você?

Tânia F.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quem poderia ter advinhado o gosto amargo-doce que isso teria?

Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só essa vontade quase simples de estender o braço pra tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nessa janela, já dissemos tudo o que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação, impressão, ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e com a ponta dos meus dedos tocar você, natural que seja assim: O toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora. Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha pra mim, sorri. Quanto tempo dura? [...] Eu sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá dizer: Não.

Amanhã não sei, não sabemos.

Até quando esses remendos inventados resistirão à peste que se infiltra pelos rombos do nosso encontro? [...] Chega em mim sem medo, toca meu ombro, olha nos meus olhos, como nas canções do rádio. Depois me diz: "-Vamos embora para um lugar limpo. Deixe tudo como está. Feche as portas, não pague as contas e nem conte a ninguém. Nada mais importa. Agora você me tem, agora eu tenho você. Nada mais importa. O resto? Ah, os restos são restos. E não importam. Quero dividir meu olhar, desaprendi de ver sozinho e agora que tudo perdeu a magia, se magia houve, e havia, e não consigo mais ver nenhum anjo em você, pastor, mago, cigano, herói intergaláctico, argonauta, repercante, e agora que vejo apenas um rapaz.[...] Cabelos tão negros, rosto quase quadrado, quase largo, olhos perdidos, boca de naufrágio vermelho pesado sobre o escuro da barba malfeita, olho tudo isso que vejo e não tem outra magia além dessa, a de ser real, e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo leve, e vou dizendo longo sem pausa - gosto muito de você de você muito de você.

Há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos mais ainda restam na palma da minha mão? Agora está feito e foda-se, nada vale a pena, puxar cobertas, cobrir a cabeça, tudo vale a pena se a alma, você sabe, mas a alma existe mesmo? E quem garante? E quem se importa?
Te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro.
Não temos culpa. Tentei. Tentamos.
 
Caio Fernando Abreu