terça-feira, 4 de junho de 2013

Lua.

São quatro horas da manhã, de uma terça-feira qualquer, estou sentada no parapeito da minha janela, no segundo andar, e a única coisa que sinto, nesse momento, é o frio das telhas geladas onde meus pés estão apoiados. Gosto de me sentir momentaneamente vazia por dentro, porque tenho a sensação de que posso me preencher e me transbordar do que eu preferir.

Eu percorri o céu com os olhos, detalhando mentalmente todas as constelações que aprendi encontrar e, orgulhosa, percebi que nunca me importei de perder um pouco da madrugada apreciando o que muitas pessoas parecem esquecer. Encontrei a lua pelo meio do caminho e, tive a certeza que em meio às janelas, suas luzes apagadas e o silêncio absoluto das casas ao redor, hoje, ela decidiu ser minha.

Não, não me recordo a primeira vez que a vi, tampouco o que ela causou aos meus olhos ingenuamente novos. Não conheço inteiramente a sua história e sei que sou recém-nascida diante do seu tempo. Não tenho números pra quantidade de sorrisos, choros, encontros ou desencontros que já se puseram diante dela, ou simplesmente para a quantidade de vidas que já a contemplaram da mesma forma que faço agora. Eu sei que sou só mais alguém que se encanta, só mais alguém que já declarou que prefere a noite, só mais alguém que se sentiu pequena com a lua dentro das pupilas dilatadas.

Invejo demasiadamente aqueles que já puderam estar ali, tão perto. Porque, ainda que eu tente, as lentes do meu telescópio não são capazes de me aproximar tanto assim. No entanto, eu a procuro quase todas as noites, e mesmo com toda essa distância e com a infinidade de coisas que já se puseram diante de mim, a lua é, com toda a certeza, o que meus olhos já viram de mais belo.

Quando ela se mostra surgindo em frente à minha janela, eu posso crer que nada sei sobre a vida, resumo então, que olhar a lua é um meio-termo entre mistério e tranquilidade. Transborda paz. Talvez, quando eu sentir o mesmo, com os pés na Terra, saberei onde exatamente é o meu lugar.

Tânia Quaresma.

2 comentários:

  1. As vezes admiramos algo e projetamos nossas análises sobre ele, achando que falamos de algo distante quando na verdade o telescópio está na nossa própria imensidão.

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