quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Dentro de mim.

Você entrou pela porta, com três ou quatro malas enormes distribuídas entre seus dedos e embaixo de cada braço, não pediu permissão nem deixou recado avisando quando chegaria. Fechou a porta com o lado do corpo e colocou algumas malas no chão e outras no sofá. Olhei pra você meio assustada, não esperava que você chegasse hoje, não esperei que você chegasse.

Você foi logo abrindo espaços nos armários, guarda-roupas, prateleiras, coração. E aos poucos, foi arrumando suas coisas, tirando suas inúmeras qualidades e defeitos de dentro das suas enormes malas e organizando pouco a pouco nas estantes da sala, armários da cozinha, no meu criado-mudo, nas prateleiras do banheiro. E eu, fui conhecendo, aceitando e abraçando cada pedaço seu, agora, espalhados pelo meu lar.


Você, com essa personalidade cheia de ótimas intenções em tudo o que faz me fez duvidar no início, mas não se preocupa, a culpa não é sua, a culpa é do mundo, tão cheio de pessoas sem coração, de risos difíceis, que talvez tenham me feito acreditar que eu estava sozinha. Ainda bem que você entrou sem bater, não pediu licença, nem avisou previamente, ainda bem que você empurrou a porta e, quando dei por mim, você já estava dentro. De mim.

Lembro que ao terminar sua nada pequena arrumação, você guardou suas malas por cima das minhas. E avisou que a partir daquele momento, ali só seriam guardadas as coisas que construiríamos juntos. Aceitei, porque olhei em volta e não consegui mais me decifrar. Eu e você estávamos espalhados pela casa inteira, estávamos em todos os cantos. Misturados.

Acho que sou mais eu, porque encontrei você. Acho que voltei a conseguir me decifrar em ti. Decidi te entregar meu coração, simplesmente porque quando dei por mim, ele já era seu. E você aceitou da forma mais bonita possível, e me deu o seu em troca, para colocar o meu no lugar. Somos duas pessoas que decidiram cuidar de um coração que não está no próprio peito, e não existe, no mundo, algo mais bonito.

Tânia Quaresma.

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