sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dissemelhante.

Venha, sente ao meu lado. Não pergunte coisas bobas, não pergunte se estou bem. Tantos já perguntaram isso. Inicie uma conversa sobre o jeito que meus olhos piscam, fale das imperfeições dos meus dedos. Me faça rir de um defeito. Não seja comum, porque no mais íntimo essa é a espera, de que tudo seja simples, óbvio e banal. Seja diferente. Comece falando sobre a minha inquietude, do jeito que minha perna não para quieta, conte-me suas crenças, seus afetos, aceito até sua rotina se me contar o que te faz sorrir e do que você tem medo. Por que as coisas realmente belas ficaram de lado? Por que as conversas realmente interessantes se tornaram escassas? Não seja abusivo, se eu te contar meus medos é simplesmente porque eles parecerão bestas perto do seu conforto, porque ele valerá a pena. Eu posso até ganhar um abraço.

Coisas banais são tão desinteressantes, me surpreenda!  O normal não me interessa. Me ligue às três da tarde de uma terça-feira, completamente sem motivo. Escreva uma carta. Me faça rir de algo totalmente inusitado, olhe nos olhos, beije minha cabeça quando o que eu mais quiser seja um beijo seu. Me traga uma maçã, ou um desenho, ou um cadarço. Aceito até a folha de um livro. Olhe as nuvens, brinque comigo, e brigue também. Me deixe um dia com raiva por fazer minha barriga doer de rir, me suje, escolha um texto para mim, leia algum meu, ou escreva um. Cante uma música horrível. Mostre que se importa. Dance comigo ao meio dia, sem som algum. Me dê um buquê de flores, ou folhas, ou uma verdura, ou escolha uma estrela para ser nossa. Me deixe te afogar em mim, me belisque, me puxe, ria de qualquer gordura a mais, ou mostre como os meus braços são finos. Invente uma história para eu dormir. Me faça passar vergonha e chorar de rir. Desapareça, não me procure um minuto sequer, mas volte, não me deixe te esquecer. Pode parecer insano, mas é tão bom sentir falta de alguém. Simplesmente me deixe te conhecer, o seu íntimo, a sua alma. Saber o que realmente gosta e o que não gosta, saber o que te faz sorrir. Porque isso sim vale a pena, porque isso sim é único. E é só o que se quer ser. Me deixe participar das suas lembranças, isso é tão difícil hoje em dia. Me faça suar, me faça sentir frio. Mas, por favor, não me deixe normal, não me deixe amena.


Tânia F.

Um comentário:

  1. Amei, mais uma vez digo que você escreve o que eu penso! Lindo, parabéns amada!

    Quero um amor assim...

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